O
que resta a uma criança que desde muito cedo vê os pais brigando, brigando,
brigando?
Penso que restam sonhos. Muitos
sonhos. Desde os mais inocentes e ingênuos como acreditar que um dia os pais
vão ficar juntos outra vez e reconstruir a família até aqueles mais fantasiosos
de um dia encontrar alguém que faça a vida se tornar um conto de fadas.
A
parte de mim que ousou continuar existindo nasceu dos sonhos da infância.
Aprendi a ler aos sete anos. Gostava de ouvir histórias de superação e de final
feliz como a da Cinderela. Identificava-me com ela. Eu era a gata borralheira.
Estava certa de que um dia viria a ser resgatada por um príncipe encantado.
Nunca fui tão ambiciosa a ponto de
desejar ter grandes posses, muitas propriedades, empregados e carros. Queria
apenas ser feliz. Muito feliz e amada.
Queria estudar muito. Sempre gostei
muito de estudar. E queria ser escritora. Achava encantador o modo como os
escritores e escritoras prendiam nossa atenção. Gostava de contos, ficção,
poesia, qualquer tipo de narrativa. O que me encantava era a narrativa em si.
Aficionada pelas estruturas que subvertem
o tempo e o espaço – o que na verdade sou até hoje. Amo o poder das palavras e
o poder de viajar no tempo e no espaço. Os retrocessos e os retornos ao tempo
real da narrativa.
Devo ser meio doida mesmo. Mas isso
tudo me dá alegria.
Não há vida se não houver o sonho.
Quando desistimos de sonhar, morremos. Por isso registro alguns sonhos que são
tão meus, mas ao mesmo tempo tão de nossa gente que acho que seria muito
injusto não os registrar.
Esse é o modo como quero homenagear
a todas e todos que passaram pela minha vida, seja nos sonhos, nos encontros ou
nos desencontros. Porque é permitido sonhar sempre.
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