sábado, 4 de março de 2017

ENTRE A TRAIÇÃO E A NEGAÇÃO O AMOR


  

Jaqueline Balthazar Silva[1]

            O Evangelista João narra no capítulo 13 do seu Evangelho a passagem do lava-pés. É o único Evangelista que narra a última ceia sob outro foco, o do serviço. Depois de lavar os pés dos discípulos Jesus declara que será traído. Os discípulos ficam espantados, querem saber quem será que vai traí-lo. Logo a seguir Jesus diz a Judas para fazer logo o que tem para fazer. Os discípulos não percebem ali que se trata de da traição, imaginam que Judas iria executar uma tarefa que Jesus teria pedido, no evangelho João narra que uns pensavam que ele iria comprar alguma coisa para a ceia, outros que iria dar alguma coisa aos pobres. (Jo 13, 29).
            Tão logo Judas sai Jesus começa seu discurso de despedida. Nos versículo 31 e 32 Jesus fala de sua glorificação que nada mais é que a glorificação do Pai nas obras que Jesus realizou na vida pública. Fala também da glória futura, quando já tiver ressuscitado. Nele a glória do Pai se manifesta. Deus é glorificado no Jesus terreno e esse mesmo Jesus será glorificado em si mesmo quando vencer a morte.
            Encerrando a despedida Jesus diz que estará com os discípulos por pouco tempo e que o lugar para onde ele vai eles não poderão ir. Nesse momento começa a uma das mais belas passagens do Evangelista, o novo mandamento de Jesus para aqueles que vão ficar aqui. Jesus pede aos discípulos que se amem uns aos outros do mesmo modo como ele os tem amado. O mandamento do amor. É interessante que Jesus diz “como eu vos tenho  amado”, essa frase mostra a constância do amor de Jesus por nós. Um amor que sempre existiu, existe ainda hoje e continuará existindo sempre. Ao final Jesus diz que essa será a marca distintiva entre eles, o amor de uns para com os outros.
            Logo ao final desse novo mandamento Pedro pergunta a Jesus para onde Ele vai. Jesus diz que Pedro não poderá segui-lo. Pedro insiste e diz que daria a vida por Jesus, porque não poderia ir com Ele? Então Jesus responde que o galo não cantará até que Pedro o negue por três vezes. 
            João trabalha numa dinâmica em que o amor supera tudo. Percebe-se que há duas atitudes separadas pelo mandamento novo. Narra a traição e a negação, porém, entre uma e a outra está o mandamento do amor. O evangelista nos quer dizer que o amor supera ambas as atitudes. Vai mais longe. Coloca Judas e Pedro numa dinâmica de traição e negação para nos dizer que na vida hora agimos como Judas, horas como Pedro. Horas pecamos por gestos, horas por palavras. Faz parte do ser humano viver dessa maneira. Jesus quer nos mostrar que também entre nós as coisas serão dessa maneira e que precisamos amar como ele nos amou para superar a traição e a negação.
            Não é fácil, porém, é o que ele nos deixou. E, se quisermos pensar um pouco sobre como ele nos amou, podemos olhar para a cruz. Como diz aquela música “olhe pra cruz, foi por ti, porque te amo... ninguém te ama como eu”.
            Por isso meus amigos e minhas amigas, ser cristão não é tão simples assim. Falta muito para chegarmos à knosis[i] de Jesus é preciso muita fé e muito amor ao próximo. Amor incondicional, amor que não cobra e, especialmente, amor que supera a traição e a negação diária em nossas vidas.



                               
  


[1] Mestre em Bioética pela PUCPR, Especialista em Ética e Educação com ênfase em Teologia Moral pela FACSUL/Centro Redentorista, Licenciada em Letras Português-Inglês (UTP) e Bacharel em Teologia (PUCPR).



[i] Esvaziar-se de si. Aniquilar-se.

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