ENTRE A TRAIÇÃO E A NEGAÇÃO O AMOR
Jaqueline Balthazar
Silva[1]
O
Evangelista João narra no capítulo 13 do seu Evangelho a passagem do lava-pés.
É o único Evangelista que narra a última ceia sob outro foco, o do serviço.
Depois de lavar os pés dos discípulos Jesus declara que será traído. Os
discípulos ficam espantados, querem saber quem será que vai traí-lo. Logo a
seguir Jesus diz a Judas para fazer logo o que tem para fazer. Os discípulos
não percebem ali que se trata de da traição, imaginam que Judas iria executar
uma tarefa que Jesus teria pedido, no evangelho João narra que uns pensavam que
ele iria comprar alguma coisa para a ceia, outros que iria dar alguma coisa aos
pobres. (Jo 13, 29).
Tão logo
Judas sai Jesus começa seu discurso de despedida. Nos versículo 31 e 32 Jesus
fala de sua glorificação que nada mais é que a glorificação do Pai nas obras
que Jesus realizou na vida pública. Fala também da glória futura, quando já
tiver ressuscitado. Nele a glória do Pai se manifesta. Deus é glorificado no
Jesus terreno e esse mesmo Jesus será glorificado em si mesmo quando vencer a
morte.
Encerrando a
despedida Jesus diz que estará com os discípulos por pouco tempo e que o lugar
para onde ele vai eles não poderão ir. Nesse momento começa a uma das mais
belas passagens do Evangelista, o novo mandamento de Jesus para aqueles que vão
ficar aqui. Jesus pede aos discípulos que se amem uns aos outros do mesmo modo
como ele os tem amado. O mandamento do amor. É interessante que Jesus diz “como
eu vos tenho amado”, essa frase mostra a
constância do amor de Jesus por nós. Um amor que sempre existiu, existe ainda
hoje e continuará existindo sempre. Ao final Jesus diz que essa será a marca
distintiva entre eles, o amor de uns para com os outros.
Logo ao
final desse novo mandamento Pedro pergunta a Jesus para onde Ele vai. Jesus diz
que Pedro não poderá segui-lo. Pedro insiste e diz que daria a vida por Jesus,
porque não poderia ir com Ele? Então Jesus responde que o galo não cantará até
que Pedro o negue por três vezes.
João
trabalha numa dinâmica em que o amor supera tudo. Percebe-se que há duas
atitudes separadas pelo mandamento novo. Narra a traição e a negação, porém,
entre uma e a outra está o mandamento do amor. O evangelista nos quer dizer que
o amor supera ambas as atitudes. Vai mais longe. Coloca Judas e Pedro numa
dinâmica de traição e negação para nos dizer que na vida hora agimos como
Judas, horas como Pedro. Horas pecamos por gestos, horas por palavras. Faz
parte do ser humano viver dessa maneira. Jesus quer nos mostrar que também
entre nós as coisas serão dessa maneira e que precisamos amar como ele nos amou
para superar a traição e a negação.
Não é fácil,
porém, é o que ele nos deixou. E, se quisermos pensar um pouco sobre como ele
nos amou, podemos olhar para a cruz. Como diz aquela música “olhe pra cruz, foi
por ti, porque te amo... ninguém te ama como eu”.
Por isso
meus amigos e minhas amigas, ser cristão não é tão simples assim. Falta muito
para chegarmos à knosis[i] de
Jesus é preciso muita fé e muito amor ao próximo. Amor incondicional, amor que
não cobra e, especialmente, amor que supera a traição e a negação diária em
nossas vidas.
[1] Mestre em Bioética pela
PUCPR, Especialista em Ética e Educação com ênfase em Teologia Moral pela
FACSUL/Centro Redentorista, Licenciada em Letras Português-Inglês (UTP) e
Bacharel em Teologia (PUCPR).
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