JAQUELINE BALTHAZAR SILVA
Blog autoral: Poemas, contos, crônicas, relatos. Ensaios e experimentos literários, reflexões bioéticas e teológico-pastorais.
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Descarga Emocional
Que a esperança vença o ódio
Uma oração pela vida,
uma oração pela dignidade humana
Peço, o meu Deus e Meu Senhor
por todo aquele que não tem como pedir
por todo aquele que está a mercê do mal
do egoísmo e da falta de amor ao próximo;
Peço a Nossa Senhora
a advogada e a esperança dos humildes
dos fracos e oprimidos
Peço a todos os santos e santas
que habitam os céus
que protegem a terra
Peço aos anjos e arcanjos
a todos os espíritos do bem
a toda alma de boa vontade
Iluminai o coração dos que odeiam
dissipai o ódio
plantai a caridade
a solidariedade
Dignai Senhor
que a vida vença a morte
o Amor supere o ódio
Essa é uma oração pelo futuro de um país
que a discórdia não mate o diferente
que o diferente possa coexistir
que as diferenças possam ser debatida
que o diálogo aconteça
Essa é uma oração de Amor
que os adversários sejam respeitosos
que haja harmonia nas diferenças
que o outro possa continuar a existir
apesar de nossas divergências
Essa é uma oração
pelo futuro de uma nação
que a convivência pacífica
vença a intolerância
Que eu possa existir
apesar de discordar
Que o meu adversário possa viver,
assim como eu
Que eu não me torne mais uma estatística
entre os que morreram pela paz
Que eu possa discordar do meu irmão
que meu irmão discorde de mim
Mas, mais que tudo
Que eu e meu irmão possamos existir
apesar das desavenças.
Que amanhã eu não tenha que escolher
entre morrer ou fugir do meu país
Que a democracia vença o fascismo.
Que a ira dê lugar ao amor
que a fome de justiça aconteça
que a vontade de viver
seja maior do que a vontade de morrer
Essa é uma oração de esperança
de fé, de Amor
a toda humanidade
Mas,mais que tudo
hoje,
uma oração de amor a toda diversidade
cultural, religiosa,
ideológica.
Que a harmonia resista ao caos
que a convivência seja leal
que a diferença não obrigue a matar
Que eu não seja uma ameaça
apenas por pensar diferente
Que o outro não se sinta autorizado a me exterminar
só porque discorda
Que possamos viver, discordar, debater, dialogar e deliberar
com maturidade, com inteligência em com civilidade
Que a barbárie seja denunciada e indesejada
que a construção da sociedade seja respeitada
com as diferenças e divergências
que possamos continuar existindo
apesar das diferenças;
quarta-feira, 8 de julho de 2020
1000 caracteres
Mil caracteres para contar uma vida
Ou seriam
Mil caracteres para conter uma vida?
Mil caracteres para expressar toda dor, mágoa,
angústia.
De uma vida
Mil caracteres para agradecer, sentir e gozar.
Em mil caracteres
Sou desafiada a escrever
Sobre a infinita beleza da existência
E a infinita dificuldade de existir nesse mundo,
Séculos de sufocado silenciamento
Então, vou utilizar meus mil caracteres para
denunciar:
A solidão, o abandono e a extorsão.
Lançar ao mundo toda nossa força e resistência
Para dizer que nosso sangue, nossa luta não
cabem
Em mil caracteres.
Lanço então outro desafio:
Contar todas as mulheres
Que foram silenciadas pelo mundo.
São Anas, Marias e Judites;
Mulheres indígenas, ribeirinhas, negras
Em mil caracteres é difícil jorrar nossas
lágrimas,
Nosso suor sagrado,
Nosso sangue tantas vezes amaldiçoado
Por aqueles que nos temem.
Lanço o desafio de mil palavras de afeto
No lugar de cada golpe desferido
De cada mulher assassinada
De cada criança violada
Mil palavras de sororidade.
domingo, 28 de outubro de 2018
Eu não quero morrer nem que você morra
Você que nasceu depois de 1989, saiba que você não faz ideia do que era viver se você discordasse do sistema.
Hoje você se sente livre e tem a liberdade de expressar todo seu ódio. Para que você possa ter tudo isso hoje, lá atrás muita gente morreu, foi exilada ou simplesmente desapareceu.
É muito fácil hoje odiar, xingar um partido, uma pessoa, uma representação.
Saiba você que hoje, você está com todas as armas nas mãos e você pode escolher entre continuar livre pra dizer o que quiser, ou escolher a mordaça. Claro que é mais fácil escolher o desconhecido porque você, hoje, se sente seguro pra dizer o que quiser. Mas amanhã pode não ser assim.
Hoje você pode fazer a escolha a partir do ódio irracional. Amanhã poderá ser muito tarde para querer dialogar - não haverá diálogo. Ou você estará com o sistema ou será eliminado por ele.
Mas, se você quiser pensar no que vem pela frente, olhe para o passado. O Brasil é um adolescente ainda na sua democracia - ainda vai errar muito, mas não vai ser com a repressão que vamos consertar - muito ao contrário, a repressão irá alimentar o ódio, irá eliminar potenciais adversários.
Sei que ainda há aqueles que dizem que não temem o futuro. Que acham que "se não fizer nada de errado" não terão que temer.
Eu temo muito quando uma pessoa diz que um policial vai poder matar e não será punido, até porque não há maturidade psicológica e um policial pode matar um inocente e ainda assim será liberado.
Eu temo muito pelo que já estou vendo acontecer. Pessoas eliminando a tiros, a facadas adversários políticos. Isso é o princípio da barbárie.
Eu temo por todas as mulheres que são ameaçadas todos os dias por ex-companheiros porque não são maduros o bastante para aceitar o fim de um relacionamento.
Eu temo por todos as minorias que já são marginalizadas e fragilizadas porque serão os primeiros a sofrer com as consequências de uma onda de ódio indiscriminada.
Eu não quero que ninguém morra por divergência política. Não quero que meu vizinho, meu colega de trabalho ou meu inimigo seja eliminado. Eu preciso do diferente para me perceber no mundo. Eu não existo sem essa oposição. Eu só sou porque o outro também é.
A partir do momento em que eu me fecho numa bolha onde todos são iguais, eu não tenho como aprender a discordar, opinar, discutir propostas. Eu apenas aceito tudo e engulo tudo.
Eu preciso do outro para crescer. É no diálogo e na conversa respeitosa que me disponho a ouvir o outro, conhecer o outro e até mesmo ser convencida ou convencer o outro com argumentos sólidos e honestos.
Eu quero poder viver e preciso que o meu colega que pensa diferente também esteja vivo. O contrário disso é a barbárie, é a criancice. É pegar a bola e levar embora porque não sei conversar, não sei perder nem ganhar.
Estamos diante de um momento crucial e as pessoas ficam relativizando violência, tortura, feminicídio, racismo, homofobia. Não sei ao certo até que ponto as pessoas não se dão conta disso ou se na bolha delas essas notícias não chegam.
Só sei que eu não quero que você morra só porque pensa diferente de mim. Mas há um candidato que incita seus seguidores a eliminar quem pensa diferente, e já estão fazendo isso desde que o resultado do primeiro turno saiu. Estão sentindo-se autorizados a fazê-lo.
Sei que você pensa diferente de mim, mas sei também que você talvez não queira me eliminar, mas eles não querem nem saber. Você se torna responsável, ainda que indiretamente, por todas as mortes causadas pelos seguidores violentos que seguem o candidato torturador.
quinta-feira, 18 de maio de 2017
A transformação
Hoje estou a caminho da meia idade, meio século. Sinto-me como essa águia que precisa subir o topo do morro. Estou pronta para arrancar o bico, as garras e as penas. Não sei quanto tempo pode demorar, mas sei que estou pronta pra começar o retiro.