Hoje me dei conta que esperei tempo demais e perdi o bonde, poderia ter decidido a mais tempo. O que me atrasou tanto? Uma promessa feita, tinha que honrá-la, mas poderia ter tentado antes, arriscado antes. Dava tempo de ser feliz. Dava tempo de refazer uma história que foi cortada pela raiz. Poderia ter dignificado aquele sentimento se tivesse buscado respostas mais cedo.
Demorei demais. Cheguei atrasada. Poderia ter tido uma segunda chance. E o que é triste é que o desejo de saber notícias sempre existiu. Mas o respeito, a ética, os valores sempre freavam, sabiamente, o impulso. O que nos humaniza e nos diferencia dos animais é a capacidade de racionalizar e de controlar os impulsos.
Hoje percebo que alguns impulsos podem ser intuições que tentam nos ajudar, porém, raciocinamos tanto e tanto que deixamos a graça passar. O espírito soprou e eu simplesmente ignorei. Não foi uma vez só, foram várias. Poderia ter corrigido o curso da minha própria história, mas, sem querer, deixei a oportunidade passar.
Escolhi estudar e buscar significado para a vida ajudando as pessoas, ensinando, atuando na pastoral, levando mensagem de amor fraterno e de esperança para comunidades carentes. Assumi o compromisso de lutar pelo empodeiramento das mulheres e das pessoas menos favorecidas. Escolhi a Pastoral da Saúde para falar de cidadania e de direito à saúde "para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10)".
Levei essa mensagem a tanta gente e esqueci de cuidar de minha vida. Negligenciei o amor a mim mesma, negligenciei o amor que guardei no cofre. Não sabia que um dia isso poderia me sufocar e me tirar a tranquilidade.
Sim, descobri que um dia a chave do cofre apodrece e a ferrugem começa a vazar para fora. A emoção que ficou trancada está fraca, sem ar, adoeceu. Saiu se arrastando e pedindo socorro, sussurrando, quase que inaudível. Não consegue mais gritar!
É, hoje entendi que poderia ter sido menos pragmática e covarde. Teria tido uma chance? Teria chegado a seu coração a tempo de reconquistar o seu amor? Teria dignificado o nosso amor? Nem sei ao certo se você um dia me amou de verdade. Pedi a Deus, muitas vezes para me orientar o meu caminho, o seu. Não poderia interferir quando acreditei que Deu ouviu as minhas preces, seria egoísmo da minha parte querer ser feliz com você.
Você era importante para mim. Eu esperava tanto encontrar você no meio do caminho quando nossas vidas pudessem estar livres um para o outro, mas nunca tentei cruzar aquela linha tênue que traçamos. Cumpri minha promessa por muito mais tempo do que teria sido preciso? Tive medo? Tiveste medo, tu? Ou nunca pensaste em me procurar?
Costumo perguntar-me se você alguma vez quis saber como eu estava porque eu sempre quis saber de você. Sempre! Mas havia feito uma promessa. Sempre acreditei que o verdadeiro amor é aquele que preza pela felicidade do outro, ainda que para isso tenhamos que deixá-lo partir. Foi o que eu sempre fiz, cumpri minha promessa por amor. Nunca deixei de amar você. Só que não poderia quebrar aquela promessa. Nunca mais amei alguém como amei você. Nunca mais encontrei alguém como você, apesar de ter tido alguns relacionamentos que não foram tão significativos.
Hoje me dei conta que poderia ter tentado um pouco mais cedo. Eu poderia ter estado lá naquele momento em que você precisou de mim mas eu não estava. Será que naquele momento difícil você também não pensou em mim? Não quis procurar-me? Mais uma vez o trem passou e eu me atrasei.
Você foi a brisa suave numa vida de tempestade. Você foi a calmaria num mar turbulento. Você foi um suspiro de vida quando o ar estava pesado. Você foi minha paz num mundo rodeado de guerra.
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