domingo, 30 de abril de 2017

Se arrependimento matasse

Você certamente já ouviu a expressão "Se arrependimento matasse eu já estava morto há muito tempo"!, Certo? O interessante é que - brincadeiras à parte - sim, arrependimento mata. O problema é que não mata de imediato - excetuando-se alguns casos muito graves em que podem levar ao suicídio. 
          Há um tipo de suicídio silencioso que é causado pelo arrependimento velado. Há uma infinidade de pessoas que preferem não admitir algum tipo de arrependimento e aos poucos vão se sabotando na vida. Essas pessoas podem não ter elaborado muito bem um arrependimento e, somando-se a isso aquele orgulho de não admitir que se arrependeu. Infelizmente muitas famílias criam os filhos com tamanho rigor que faz com que as pessoas criem uma capa de proteção chamada de orgulho.
          Não quero ser superficial nem rasa, apenas aprendi com a vida, a perceber as pessoas e sempre procurei ser uma ouvinte atenciosa. Algumas pessoas guardam mágoa e dor de outras pessoas, mas a maior mágoa que existe é a mágoa para com elas mesmas. Essas pessoas costumam se punir inconscientemente de várias maneiras. Umas acabam se tornando usuárias de drogas, alcoolistas. Outras, imperceptivelmente sabotam seus relacionamentos. Parece que quando tudo está indo muito bem acabam dando um jeito de destruir a relação - é como se não se sentissem merecedoras da felicidade. Tão logo tudo parece estar ficando muito bom surge um impulso que leva a pessoa a implodir tudo. O sensor, o superego dá um jeito de acabar com o ego.
          Se você já sentiu-se assim ou conhece pessoas assim certamente pode ter notado o quanto essa pessoa precisa de ajuda. E não só de ajuda de amigos - precisa de ajuda especializada, psicológica e quem sabe até mesmo psiquiátrica. Muitas vezes o tratamento pode salvar a vida dessa pessoa. Há casos de depressão que causam obesidade e não adianta só fazer dieta e tratamento para emagrecer. Precisa curar aquilo que afeta profundamente - e pode ser uma depressão causada por um arrependimento silencioso e que, muitas vezes nem mesmo a pessoa havia se dado conta de que existia.
          Por isso, uma das primeiras atitudes a ser tomada é admitir pra si mesmo que se arrepende. Não precisa publicizar, não precisa por no jornal, não precisa contar pra ninguém - só admitir já alivia aquela tensão acumulada. E, se sentir que é preciso contar pra alguém, procure alguém que não faça julgamentos, que não condene. Melhor mesmo é escrever e guardar ou, se preferir, jogar fora. Se for católico, pode se confessar - essa é uma das formas mais curativas que existe. Se não quiser falar com um padre conhecido, procure um estranho - falar é restaurador e tira o peso das costas. 
          O fato é que, o arrependimento pode sim matar, pode adoecer, pode entristecer. Uma pessoa pode se transformar, definhar. É parte do cuidado humano saber enxergar as pessoas para além do que é aparente. É muito fácil julgar alguém que é (está) amargurada, difícil é se interessar e procurar compreender a raiz da amargura. A escuta pode mudar o julgamento e pode ajudar no processo de cura. Porém, se não for capaz de escutar sem julgar é melhor nem ouvir.
          Quando alguém está arrependido de alguma coisa, possivelmente vai dar pistas, sinais. Vai tentar pedir socorro de formas diferentes. Claro que não são sinais explícitos, até porque são, na maioria dos casos são inconscientes. A pessoa deixa pistas. Conta histórias, fala de outras pessoas, tenta abordar o assunto ou fugir dele, conforme vai sentindo que afeta seus sentimentos. Guarde bem isso - arrependimento pode matar silenciosamente, sim.


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